sobre educar

Exposição: Erwin Wurm - O Corpo é a Casa
CCBB São Paulo

adoção é um namoro. 
nos primeiros dias a gente liga de volta, rola aquele frio na barriga, o coração pula. a gente chega a ouvir o coração batucando fundo de tão intenso. aí a gente dorme, acorda, troca de roupa, o tempo fecha, abre de novo e - advinha? 
o coração continua bombando, o frio na barriga diminui um pouco, mas o coração...

e como todo relacionamento, é preciso muita conversa. como adotamos dois irmão com idades bem diferentes - 3 e 10 anos - é engraçado porque tendemos sempre a tratá-los como quase adultos, mesmo o pequeno. várias vezes me pego conversando com o caçula e, no meio de uma frase me pergunto: será que ele sabe o significado dessa palavra que usei agora pouco?

enfim, com o tempo aprendemos a falar não apenas com palavras. passados quatro meses de "namoro" posso dizer tranquilamente que as conversas e broncas hoje são muito mais silenciosas - com olhares, levantadas de sobrancelhas e respiração funda - que no início. no começo é tudo festa e não sabemos bem como lidar com as coisas: aí a gente vai tentando. primeiro a gente conversa, depois a gente repete dezessete vezes a mesma coisa. no dia seguinte repete cinquenta e percebe que (talvez) não esteja surtindo efeito. aí a gente fica meio maluco: testa cortar TV, não funciona; corta chocolate, menos ainda. olho no olho: esse é o segredo. e é difícil, viu? porque quando a criança sabe que estava errada ela simplesmente não quer olhar nos olhos. a vida ensinou pros nossos que chorando às vezes conseguimos coisas. mas aprenderam isso longe daqui, porque aqui essa ceninha não cola, nem com o caçula. tá chorando? vai pro canto se acalmar, toma uma ducha gelada, soca o travesseiro: sinta-se em casa. quando estiver mais calmo a gente se olha - olho no olho - e conversa. ufa! enfim aprendemos.

e dá frutos toda essa atenção e cuidado no dia-a-dia. é tão bom ver teus filhos curtindo dias inteiros, um final de semana todinho, em que você precise só dar uns toques: eles aprenderam o conceito. educação, isso chama. a gente ensina o básico e o bom senso; o resto a gente vai moldando juntos.  e essa troca é deliciosa!

educar é também arquitetar. 
a gente coloca um bando de tijolos em volta deles e vai, aos poucos, ensinando-os a empilhar, cimentar, rebocar, pintar e deixar tudo brilhante. há quem prefira construir as paredes todinhas pra eles: fujo disso porque odeio criança mimada. aqui a gente ama na medida certa e também cobra na mesma proporção: não é por causa de uma bronca que seu filho não vai olhar pra tua cara. muito pelo contrário: ele vai dar muito mais valor quando ele perceber o quanto a gente, juntos, criamos uma série de "regras" que tornaram a vida em casa e lá fora bem mais harmoniosa.

os pais agradecem.
o mundo inteiro agradece.

"às vezes se perde o telhado, pra ganhar as estrelas". (Emicida - "Casa") 

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