Tempo nublado, preguiçoso: sábado com cara de domingo. Clima intimista
perfeito para o principal compromisso que agendamos no ultimo sábado,
12/12. Conforme havíamos conversado com
a assistente social, ficamos com a “tarefa” de amadurecermos nossa decisão e discurso.
Para isso buscamos referências em filmes e livros (nas próximas postagens
contaremos um pouco do que vimos neles) e, em paralelo, a participação em algum
Grupo de Apoio à Adoção. Em São Paulo tem diversos grupos que trabalham de
forma parecida: reuniões mensais de grupos separados em pré/pós adoção. Alguns
organizam uma série de encontros para garantir uma visão mais ampla do assunto.
Tentamos primeiro o contato com o grupo mais conhecido aqui da
capital, o GAASP – Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo. Esse tem suas reuniões
mensais sediadas no SESC Vila Mariana e as inscrições são muito concorridas!
Organizei-me para encaminhar o e-mail na hora certa para garantir nossa vaga,
mas infelizmente não consegui. Com o recesso de fim de ano o próximo encontro
será apenas em Fevereiro. Fiquei chateado pois queria muito ir a algum encontro
desses antes do fim do ano; acho importante depois de uma experiência dessas
ter um tempo pra refletir em tudo o que vimos e falamos. Nessa época seria
ideal: clima de fim de ano, férias. Insisti. Procurei no site do Tribunal de
Justiça outros grupos indicados por eles, enviei e-mail para vários. Até que
recebi um simpático retorno de uma senhora em nome do Projeto Acolher.
Informou-me que havia vaga, que o encontro seria no dia 12/12 à tarde numa
escola e, se possível, era para levarmos um prato para o lanche após a reunião.
Ficamos muito animados! Toda aquela ansiedade das etapas anteriores voltou com
tudo.
Enfim chegou o dia, chegamos à escola, preenchemos uma ficha de
cadastro e logo fomos recebidos numa sala chamada “Acolhimento”. O processo é
mais ou menos assim: essa primeira reunião, chamada Acolhimento, serve como uma
apresentação dos pretendentes que vão ao grupo pela primeira vez e uma
explicação geral de como se organizam as reuniões do Grupo. Uma vez iniciados,
os pretendentes podem se inscrever para o curso (5 palestras e 1 seminário) que
aborda de forma mais abrangente os temas relativos à Adoção além do contato com
casos reais e troca de experiências entre os participantes e mediadores. Há
também as reuniões do pós adotivo, que acompanham as famílias na adaptação à
vida nova; apesar do nome, adotantes em habilitação e que ainda não tiveram a
adoção realizada também podem participar. O objetivo é bem mais voltado à troca
de experiências, dúvidas, inseguranças e tudo o que envolve o crescimento da
criança/adolescente e o amadurecimento do (s) adotante (s).
Aguardamos um pouco para dar tempo das pessoas chegarem já que chovia
bastante. Na sala, umas 10 pessoas entre casais em torno de 30 anos, uma menina
solteira e um casal um pouco mais velho que dos demais já com um filho pequeno
(cerca de um ano e meio). Fechamos num grupo de aproximadamente 15 pessoas; começamos
nos apresentando seguindo o briefing inicial: nome, idade, em que região mora,
status do processo, como deseja a criança (idade, etnia, quantidade, etc.) e
uma ideia do que espera ouvir/falar na reunião. E conforme as pessoas foram
falando o mediador, experiente e muito simpático – Fábio Paranhos, ia tecendo
os assuntos mais importantes e cortando as curiosidades que poderiam tomar
tempo da reunião sem necessidade. Entre os casais foi quase consenso o motivo
que descreveram do porque estavam ali: tiveram dificuldades na gravidez
biológica e, ao invés de perderem mais tempo, recursos e saúde em tratamentos,
resolveram seguir a paternidade/maternidade pela via da adoção. A menina
solteira tinha uma argumentação interessante a respeito de adoção tardia; não
havia ainda entrado com documentos nem nada, estava lá para pegar informações e
estudar a possibilidade de um processo de adoção futuro.
Os assuntos abordados na conversa, na grande maioria, realmente permeiam
as duvidas e inseguranças da grande maioria. Falou-se muito sobre o quão rico é
esse tempo entre a decisão pela adoção e a preparação, as entrevistas, as
participações nos Grupos de Apoio, tanto antes quanto depois da adoção
realizada. São trocas de experiências entre iguais e isso é muito importante
para o amadurecimento e para dar ainda mais forças para conseguirmos resolver
os problemas de um quotidiano novo. Além disso, um assunto recorrente foram os
atributos inseridos para filtrar a criança desejada. Esse é realmente um ponto
delicado no processo de Habilitação. Tudo ali depende da “barra” que o casal está
disposto a suportar. Por exemplo: um bebê de 1,5 anos talvez necessite do mesmo
tempo dos adotantes que uma criança de 8 anos necessita. A diferença é que o
tempo que você dispenderia com o bebê cuidando da higiene e troca de fraldas, irá
usar conversando e alinhando sobre costumes, comportamentos e afins. Diferente
do bebê que cresce junto com os pais, a adoção tardia requer uma atenção
especial já que a criança já chega numa idade que já possui interface com a
sociedade: escola, shopping, parque. Como não houve tempo para a construção
desse relacionamento e conversas sobre educação e costumes, é esperado que no
início essas sejam mais frequentes, necessárias e muito importantes. Não somente
para crescimento de pai e filho, mas para união, conferir laços entre os dois. A
única diferença de um pra outro é: a que o (a) adotante está disposto?
Essa pergunta tem de estar muito clara já que a idade é só a primeira
do questionário. Quantidade depende também de tempo e recurso que os adotantes
têm à disposição. Pra isso é essencial analisar a rotina atual e o que é
possível adaptar caso seja necessário. Etnia deve ser analisada
meticulosamente. Os adotantes não podem correr o risco de escolher apenas
crianças brancas, por exemplo, para que ela se pareça mais com eles e assim
talvez não precise falar a respeito da adoção no dia-a-dia da família. O
assunto deve ser recorrente e aberto, desde sempre. Além de evitar a
dificuldade de se preparar para o tão esperado dia em que a família se reúne com
a criança para conversar a respeito, o assunto será tratado com tanta
naturalidade à mesma medida que ele for recorrente nas conversas em casa. Devemos
ponderar esse item como mais um em: “qual briga que estão dispostos a travar”.
Temos então os itens que geram mais dúvidas e acabam sendo mais
polêmicos: doenças tratáveis, não tratáveis, deficiência física, mental, HIV,
pais drogaditos, soropositivos, fruto de um incesto, estupro. O assunto é
pesado, sem dúvida, e as escolhas mais ainda. Por isso a importância do
amadurecimento do casal, da clareza de informações para que o processo corra da
maneira mais segura possível. Informações: livros, filmes, conversas com
famílias que adotaram... Sempre bom lembrar: pode-se ajustar a planilha a
qualquer momento. Basta uma conversa na Vara para ajustar idade ou qualquer
outro item que julgar necessário. Todavia, essa alteração deve ser feita para
os casos em que os adotantes sentirem necessidade, como parte de seu processo
de amadurecimento, e não para “pular fila” ou ganhar tempo no processo de
adoção.
Esse bando de escolhas nos deixa muito pensativos sobre a real
necessidade de preencher isso tudo (e ficamos felizes, pois lá no Grupo
encontramos outro casal com a mesma opinião!). Caso seguíssemos pela gravidez
biológica, por exemplo, não teríamos como escolher entre esse bando de
alternativas. É certo escolhermos? Muitas vezes ficamos muito presos em criarmos
em nossa mente a imagem da criança ideal e nos esquecemos de que ela tem a
própria vida, as próprias vontades, história. Estamos apenas nos dispondo a
dividir a vida com ela e, lado a lado, crescermos e seguirmos nossos caminhos.
A busca por classificações quase nunca faz sentido. O Fábio, que mediava a
conversa, deu um exemplo muito ilustrativo em relação a isso: quando éramos
jovens e pensávamos no futuro certamente nos imaginávamos nossas vidas
diferentes e ao lado de pessoas não exatamente como as que escolhermos viver
juntos. Pode apostar: a realidade é muito melhor que o desejo que alimentávamos
na adolescência. Algo muito parecido acontece no processo de Habilitação e
Adoção. Muitas vezes ficamos presos alimentando sonhos e desejos e acabamos por
esquecer que falamos sobre bebês e crianças reais, de verdade. Elas não vão se
comportar exatamente como esperamos. O cabelo não vai ser exatamente como
imaginamos. Teremos surpresas, e essa é a graça disso tudo: a descoberta um do
outro (pais e filhos), a graça de experimentarmos momentos e sentimentos novos,
a beleza de nos surpreendermos com uma realidade muito, mas muito melhor do que
qualquer planejamento que pudermos um dia fazer.
Foi um dia muito rico, cada oportunidade que temos de bagunçar nossa
gaveta pra organizar as ideias é bem vindo. E foi bem isso que aconteceu
sábado. Desde então falamos muito mais a respeito e corremos mais ainda para
saber a respeito do que temos alguma insegurança ou dúvida. É como um jogo: a
cada fase fica mais emocionante e desafiador. Estamos curtindo muito a nossa “gravidez
invisível”!!!
Abaixo segue o contato de alguns grupos de apoio de São Paulo:
GAASP
(11) 2994-2103
Projeto Acolher
http://projetoacolher.blogspot.com.br/
(11) 2577-0238
Projeto Acalanto
https://www.facebook.com/Projeto-Acalanto-SP-159415910816325/
NEAP – Universidade Cruzeiro do Sul
(11) 3385-3108
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