Em tempos de concorrência acirrada, mercado
em crise e notícias desanimadoras, é normal pensarmos e ponderarmos muito mais
antes de qualquer decisão. Em outras palavras: sim, somos “cagões”! E isso não
é necessariamente ruim. Agindo assim tomamos iniciativas, muitas vezes, mais
maduras e assertivas; mas temos que aceitar que muitas vezes vazam em nossos
dedos oportunidades de realizarmos nossos sonhos.
Cada um tem seu jeito de se preparar, de se
sentir mais seguros: uns leem, estudam, assistem documentários; outros participam
de rodas de conversas, terapias, conversas de bar. O que importa é achar seu
jeito e levar a sério! Ontem, numa conversa de bar, estava falando sobre
pessoas, relacionamentos e afins. E veio pra mesa uma pergunta que me deixou
inquieto: já se imaginou no lugar do outro? O contexto era outro, mas a pulga
atrás da orelha, na hora, já estava lá.
E você: já se colocou no lugar da criança que está hoje no
abrigo aguardando pela adoção?
Não precisa responder, pelo menos não agora. Mas
por favor: não deixe de refletir! É uma situação limite, que tona os nosso
problemas cotidianos ínfimos depois de pensarmos sobre isso. Vem comigo: uma
criança que provavelmente é fruto de uma gravidez indesejada, entregue a um
abrigo após o nascimento (no melhor dos casos, nem estou apelando pra covardia
dos pais que abandonam pelas ruas), vive no abrigo há anos dividindo a falta de
privacidade com diversas crianças com histórias parecidas (ou até piores) aguardando
que um dia seja indicada a alguém interessado em adotá-la. Não se tem prazo e muito
pouco se sabe sobre futuro. O que se sabe é: se tudo correr bem, haverá um (ou mais)
interessado(s) e a criança irá morar com ele(s). Sim, ela teoricamente tem que
fingir naturalidade com o fato de dormir na casa de “estranhos” e se sentir “em
casa” rapidamente. Pesado, né? Então. Por isso precisamos exercitar essa
compaixão.
Não é a ideia (e nem saudável) pensar nisso
para tratar o adotado como um “coitado”. Longe disso! Temos apenas que nos
exercitar, nos tornarmos fortes pra conseguirmos amparar essa criança; ela tem
que superar isso e tornar toda essa superação em robustez. Aí sim a adoção foi
bem sucedida. A adoção é uma via de dois sentidos: serve pros pretendentes se prepararem
e, com o tempo, tornarem-se pais e pros adotados superarem as dificuldades de
sua história (e, infelizmente, por todo o preconceito que ainda vai sofrer) e
se tornarem filhos. Desafio! Pros dois lados.
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a voz
há muito tempo descobri que não tenho as respostas.
e que, talvez, nunca as terei.
entretanto, percebi que encontrar as perguntas é motivo de
alegria.
pois embora elas não respondam, instigam.
nesse sentido, agarrei-me a todas.
abracei, beijei, sorri e chorei feito louco.
fiz de conta que o medo já não existia.
escondi esse intruso num canto qualquer.
numa música nova, cheia de coragem.
todavia, em silêncio, ouvi aquela voz que, vez ou outra,
vaza aqui dentro:
seque a lágrima, cesse o riso, siga o rumo, sinta o som.
sei, pensei, falas isso por não ser contigo.
não, retrucou, digo justamente por falar de mim.
cansei de tagarelar e não ser ouvida.
agora que ouves, quero que faças.
e se não fizerdes, não calarei.
quieta! ordenei.
ela riu.
ri também.
deu até vontade de seguir além.
vem comigo?
vou.
então vamos.
fomos.
agora, aqui estou.
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Fonte: https://motivosparaescrever.wordpress.com/2015/08/26/80/
(Acesso em 30/03/2016).
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