No Dia Nacional da Adoção, comemorado nesta quarta-feira, 25 de maio,
o Catraca Livre destaca a história da escritora Paula Abreu, que relata sua
experiência como mãe adotiva desde a chegada do pequeno Davi, hoje aos sete
anos.
Em uma emocionante declaração de afeto, Paula destaca os desafios e as
virtudes de uma relação baseada no amor incondicional.
"Nunca vi diferença entre um filho adotado e um filho
biológico", ressalta Paula Abreu sete anos após a adoção.
“Quando decidi que finalmente queria ser mãe,
considerei todas as alternativas possíveis – por incrível que pareça, tem pouca
gente que faz isso!
Embora eu pudesse engravidar normalmente,
pesei todos os prós e contras e fiz a minha primeira escolha importante
relativa à maternidade: eu queria adotar uma criança.
Depois dessa, vieram muitas outras escolhas
igualmente importantes. Escolhi ser indiferente à raça, cor, tipo de cabelo da
criança que adotaria. Escolhi aceitar que tivesse um irmão. Ou irmã, porque
também escolhi ser indiferente ao sexo das crianças. Escolhi que essas crianças
não precisavam ser bebês recém-nascidos, mas sim podiam ter 3, 5, 7 ou até mais
anos de vida.
Escolhi contar pra todo mundo a minha decisão
e escutar os comentários preconceituosos. Escolhi lidar amorosamente com a
ignorância das pessoas com relação à adoção.
Em vez de me revoltar ou reclamar sobre essa
ignorância, escolhi um caminho diferente: escrevi o livro sobre adoção que eu
gostaria de ter lido. O livro que eu achava que devia existir.
Hoje é um dia muito especial pra mim. Há
exatamente sete anos, eu fiz uma das escolhas mais importantes de toda a minha
vida (talvez, a mais importante que jamais farei): eu escolhi o meu filho.
Naquele dia, recebi um telefonema no meio da
tarde, em que a assistente social me perguntou se eu gostaria de conhecer uma
criança que estava disponível para adoção.
Eu escolhi o sim.
E, algumas horas depois, quando estava com um
pequeno bebê de apenas 20 dias nos meus braços, eu escolhi que aquele seria,
pra sempre, o meu filho.
E naquele ínfimo segundo em que ele abriu os
olhos e olhou dentro dos meus, eu tive a certeza de que ele, também, estava me
escolhendo.
Essa sequência de escolhas me fez, pela
primeira vez na vida, descobrir o que era o tal ~amor incondicional~ sobre o
qual eu tanto já tinha lido, e que eu tanto já tinha buscado de milhares de
outras formas, dentre elas meditações e práticas espirituais.
Foi só quando vi o tamanho do amor que eu era
capaz de sentir por uma criança que eu não tinha gerado, gestado, parido ou
amamentado, que era parecida comigo em absolutamente nada, foi só nesse momento
que eu descobri o que era o Amor com A maiúsculo.
A partir daquele dia, há exatos sete anos, eu
passei a olhar pras pessoas na rua de forma diferente. Como se uma nova escolha
que antes eu não enxergava tivesse passado a existir: a escolha de Amar aquelas
pessoas como se elas, também, pudessem um dia ter estado nos meus braços de mãe
e, mesmo sendo totalmente diferentes de mim, eu fosse capaz daquele Amor
imenso. Incondicional.
Aquela sensação de flutuar pelas ruas no
amor, encher os olhos d’ água ao enxergar um chefe babaca, uma amiga, um gari
ou a caixa do supermercado como uma criança única e especial que eu poderia ter
um dia abraçado e amado e escolhido como meu filho, a sensação de que todos
éramos um só, independente das raças, idades, crenças, histórias de vida e das
escolhas que tínhamos feito na vida durou alguns meses.
Com o tempo, o trabalho, o estresse, as
frustrações, a vida mesmo se encarregou de me jogar de volta pra matrix, de
re-fragmentar tudo, de me fazer sentir isolada, Eu, eu-contra-os-outros,
cada-um-por-si, cada-um-com-seus-problemas, uma peça perdida de um
quebra-cabeças desconhecido.
Mas a memória daqueles meses nunca me deixou.
E foi só muitos anos depois que consegui – de novo inesperadamente – voltar a
sentir aquele Amor e de entender e enxergar com os olhos do coração que, por mais
que eu seja eu, eu não existo sem você, assim como você não existe sem mim e
nós não existimos sem todo o resto do que vive sobre esse planeta.
Isso aconteceu quando escolhi a minha vida
nova.
E escolhi nunca mais esquecer dessa unidade,
e nunca mais deixar de sentir esse Amor.
Então, hoje, toda minha gratidão vai pra meu
pequeno mestre de cinco anos, que me faz rir, que ri de mim, que ri comigo, que
me deu a permissão – que eu não sabia desnecessária! – pra voltar a ser
criança, e que me ensinou a maior lição que aprendi até hoje.
O filho que eu escolhi mudou a minha vida.
Sempre, sempre, sempre pense em todas as suas alternativas e faça escolhas
conscientes.
Porque elas podem vir a mudar a sua vida
também".
Fonte:
http://bit.ly/1TzIdc7
(Acesso em 25/05/2016).
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