Ser honesto com os filhos sobre todo o processo é a melhor
maneira de evitar desententimentos
“O
filho é a resultante esperada da relação homem-mulher; é como se o equilíbrio
se completasse a partir de um terceiro referencial. É da interação dessas três
forças (ou mais) que surge a verdadeira unidade”. O sentido da afirmação do
psicólogo Luiz Schettini Filho é o ponto de partida para que muitos casais
optem por adotar uma criança quando, por algum motivo, não podem gerá-las. Mas apesar
de toda a grandiosidade e beleza da adoção, existe uma fase delicada, pela qual
todos irão passar: a hora de contar à criança a verdade sobre sua origem. É
preciso maturidade para que este momento seja encarado pela família com total
naturalidade, evitando traumas aos pequenos.
Em seu artigo “Uma psicologia da adoção”,
Schettini diz que a criança adotada necessita do conhecimento de sua origem.
“Dizer a verdade tem sido um desconforto, quando não um motivo de pânico, para
alguns pais. É como se a histórica revelada pudesse destruir o afeto familiar.
Porém, as dificuldades nas relações interpessoais poderão surgir muito mais
pela manutenção dos segredos do que pela revelação da verdade”, garante
Schettini, que é especialista em psicoterapia de crianças e adolescentes e o
maior escritor do assunto no Brasil.
Esposa e parceira de Luiz em pesquisas, além
de presidente do Grupo Estudo e Apoio à Adoção (Gead), no Recife, a psicóloga
Suzana Schettini acrescenta que a criança precisa tomar conhecimento de sua
realidade mais ou menos aos 2 anos, com palavras simples e de uma forma que ela
possa entender. “Na verdade, os pais irão apenas confirmar o que,
inconscientemente, a criança já sabe. Ela tem percepções e inscrições
psicológicas da vida intrauterina e da transposição para a família adotiva.
Tanto que, atualmente, não se fala mais em ‘revelar’ a história mas, sim,
comunicar. Isso não deve angustiar os pais”, pontua Suzana. De acordo com a
psicóloga, eles são as pessoas que devem fazer esta comunicação, para evitar
que a criança tome conhecimento de forma inadequada, através de terceiros.
Meninos e meninas terão um entendimento mais
claro de sua adoção a partir dos 6 ou 7 anos e a reação deles ao fato vai
depender de como lhes foi passada a sua realidade. “A criança aprende o mundo
da forma como os adultos ensinam. Se estes se sentem seguros e confiantes na
sua condição de pais, assim a criança também se sentirá.
É o que acontece com a fonoaudióloga Auriany
Nunes e o motorista Gustavo Souza Leão, que hoje esperam seu primeiro filho
biológico, mas, primeiro, adotaram Arthur, de 4 anos, quando ele era um bebê de
3 meses. “A chegada dele só nos trouxe alegria e por isso esclarecemos os fatos
naturalmente. Sobre a sua vida, não queremos deixar lacunas”.
Fundadora do Geadip, grupo de apoio à adoção,
em Belo Jardim, no Agreste, Tatiana Valério tem duas meninas: Maria Júlia, 6, e
Maria Alice, 4. Ela e o seu marido, o autônomo Marcos Valério, sempre
procuraram a forma mais leve de falar com elas sobre o assunto. “A mais velha
já entende, mas eu digo à mais nova: mamãe e papai queriam muito outra filha.
Um dia, o telefone tocou e era a juíza perguntando: ‘é da casa de Marcos e
Tatiana? Tem uma menina aqui esperando vocês’. E nós fomos correndo buscar
você!”, conta Tatiana, que sempre põe a sinceridade em primeiro lugar. “Ela
está na fase de dizer que saiu da minha barriga, mas sou firme: não, filha; os
pais podem ter os filhos ou adotá-los e nós adotamos você!”.
Suzana Schettini resume bem toda essa
questão: “A adoção é apenas uma outra forma de se chegar à família. Na verdade,
todas as crianças precisam ser adotadas para se tornarem filhos, porque a
filiação somente acontece através dos vínculos afetivos, ou seja, pela adoção.
Assim sendo, todos os filhos precisam ser adotivos, mesmo os biológicos, ou não
serão filhos de fato. Os pais que não adotam as suas crianças afetivamente, são
apenas genitores”.
Fonte: http://www.interblogs.com.br/luizschettini/clip (Acesso em 02/05/2016).
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