Com pouco mais de
10 minutos, o filme Apadrinhamento Afetivo – Uma Experiência, dirigido por
Diego Garcia e Gui Mohallem, apresenta entrevistas com vários integrantes. Apadrinhamento Afetivo, programa criado pela
Vara Central da Infância e Juventude de São Paulo. O projeto estimula crianças
e adolescentes, que vivem em abrigos com poucas chances de adoção, tenham a
oportunidade de criar vínculos afetivos e se relacionar com padrinhos e
madrinhas que tenha vocação para essa “tarefa” social e afetiva.
“Culturalmente, temos a ideia difundida de que
a adoção só deveria englobar as crianças em idade ainda tenra, por isso, nossos
abrigos ainda estão muito cheios… O que se busca são crianças de até certa
idade, depois daquela idade elas acabam sendo esquecidas. Querem aquelas com
nenhum rebaixamento, nenhum tipo de deficiência, o que se buscam são os filhos
perfeitos. E os adolescentes acabam esquecidos nos abrigos e acabam saindo de
lá só quando alcançam a maioridade e, nesse meio tempo, talvez não se tenha
feito muito para que eles tenham um vínculo afetivo para sair de lá.”
Com esse
depoimento, a juíza Mônica Gonzaga Arnoni expõe o contexto de crianças e
adolescentes que chegam aos 18 anos sem ter tido vínculos familiares. E assim
começa o documentário, contextualizando a importância de programas de
apadrinhamento afetivo para crianças e adolescentes com poucas chances de
adoção.
Em tempos de novas
mídias, o filme é um bom instrumento de estudo de caso, mas também de
sensibilização social à causa. As crianças não aparecem. Tampouco em nuances ou
filmadas de longe, como nas TVs comerciais. Todas as vozes do documentário são
das pessoas articuladas para organizar o projeto e, extraindo a certeza de que
é preciso fazer algo, ninguém é dotado de grandes verdades a ensinar, mas de
compartilhamento de dúvidas, de processos e de mitos.
O filme usa os
vários depoimentos para contar a história do programa, relatando alguns medos e
percepções do grupo. ”Como psicanalista, entendemos que é um universo de muita
delicadeza, que estamos diante de todos os temas que o humano se depara, que é
a questão do desamparo,” afirma Márcia Porto Ferreira, psicanalista do projeto
e da Coordenadoria do Grupo Acesso, uma das conduziu as vivências, em
depoimento. Funcionários dos abrigos reconhecem a importância e amor ao
trabalho, mas lembram de que um vínculo mais individual pode fazer muita
diferença na vida dos adolescentes, mesmo que eles custem a demonstrar.
“Muitas vezes você
não vai chegar aqui (padrinhos e madrinhas) e esperar que as crianças vão abrir
os abraços e dizer: que legal que você está aqui. De repente, você vai chegar e
elas vão dizer: que saco, você está aqui de novo. Mas, de verdade, o que elas
mais queriam é que vocês estivessem aqui mesmo,” opinou uma profissional de um abrigo. Dentre
os depoimentos mais emotivos, está o de um padrinho que, passados meses, ganhou
seu primeiro abraço.
Apadrinhamento
Afetivo: uma experiência
(2015)
Direção: Diego Garcia e Gui Mohallem
Criado há um ano, o
projeto piloto de Apadrinhamento Afetivo tem com o objetivo de estimular que
crianças e adolescentes acolhidas em abrigos, com idade a partir de 10 anos
(faixa etária com poucas chances de adoção), tenham a oportunidade de convívio
social, instituindo assim a figura de padrinhos e madrinhas. Coordenado pela juíza Dora Martins, na época
responsável pela Vara Central da Infância e Juventude, hoje magistrada
substituta de Segundo Grau), com a parceria do Instituto Sedes Sapientiae, do
Grupo Acesso, Mackenzie e apoio da Prefeitura de São Paulo, o programa tem
atestado os bons efeitos num grupo de 30 afilhados e 34 padrinhos. A nova juíza da Vara Central da Infância,
Mônica Gonzaga Arnoni, não só acolheu o programa como tem reforçado às ações e
Dora permanece no programa, que ganhou mais suporte com engajamento da primeira
turma de padrinhos. Agora, o programa busca parceiros (institucionais e
financeiros) para a expansão, com o objetivo de levar o Apadrinhamento Afetivo
para programa a outras varas da capital e também do Estado.
O projeto de
Apadrinhamento consiste em garantir às crianças e aos adolescentes o encontro
com pessoas predispostas a se tornarem referência afetiva para elas, com
disponibilidade emocional e de tempo para a construção de vivências e, por
consequências, vínculos afetivos. E a
prática, de acordo com a juíza Dora, confirmou o que o grupo que o criou tinha
como premissa desde o início: a necessidade de preparação de todos os
envolvidos. “As pessoas vieram para
fazer um trabalho afetivo e social. Foi uma coisa nova nesse sentido, chegaram
com paciência de passar por grupos de encontro e terapia por quase seis meses,
com aproximação pessoal gradativa aos afilhados. Foi preciso preparar as
crianças e adolescentes, os profissionais do abrigo e também os padrinhos”,
contou Dora. A juíza atribui a esse cuidado o fato de que o grupo de padrinhos
e madrinhas permanece firme nos passeios, encontros e atividades conjuntas com
histórias singulares e boa regularidade.
O Projeto de
Apadrinhamento foca os adolescentes. Todos acima de 10 anos de idade, havendo
exceções, poucas, quando há grupo de irmãos e revela também um lado excludente
do mapa de adoção da sociedade brasileira, explicou. Os padrinhos não tem a
guarda, mas uma frequência de contato e relacionamento assegurada e conta com o
apoio de especialistas em comportamento humano. A clareza e foco do projeto
fazem sentido. Só 1% das pessoas cadastradas para adotar e inscritas no
Cadastro Nacional de Adoção (CNA) estão dispostas maiores de 10 anos. Há nos
abrigos casos de adolescentes que ficam acolhidos até os 18 anos. Sem uma
família de referência, têm de buscar trabalho e moradia numa fase da vida
importante para os estudos.
O Nossa Infância
preferiu não colher o depoimento dessas crianças e adolescentes, reservando
essa possibilidade para um momento mais oportuno. Isso porque o minidocumentário
Apadrinhamento Afetivo – Uma Experiência, dirigido pelo cineasta Diego Garcia
para apoiar à causa, traz depoimentos que humanizam a história. Os afilhados,
por uma questão de preservação, não são ouvidos e também entendemos que não é o
caso para a exposição. Em 10 minutos, o filme, produzido com o intuito de
divulgar o projeto, dá a dimensão das dinâmicas de construção do programa,
experiências vividas pelos padrinhos e madrinhas, o olhar das psicólogas
envolvidas e a experiência dos profissionais que trabalham nos abrigos. Filme
mostra importância das referências afetivas para crianças com poucas chances de
adoção.
Dora explicou que
o Programa iniciou com focos claros, nenhum recurso financeiro, e uma
metodologia aberta de construção conjunta. A experiência se deu em três abrigos
dos 20 da região central. Após a publicação oficial do programa na imprensa,
muitas pessoas se candidataram. Foram mais de 3.500 candidatos a padrinhos/as
se inscreveram em três dias, bem maior do que imaginavam atrair.
Um total de 200 foi
chamado para a primeira fase. Como o piloto envolvia nesta primeira fase 30
crianças e jovens, chegou-se ao total de 34 padrinhos – o modelo de mais uma
padrinho para a criança surgiu no processo. Hoje são 30 crianças no programa e
as recordações e vivências já preenchem álbuns de fotografias, tem registros em
cartas e vídeos e ganham seus significados. Muitos dos padrinhos e madrinhas
inscritos devem ser chamados, assim que sejam organizadas as novas fases do
programa.
A juíza Dora
explica que os recursos para apoiar não são altos, basicamente para cobrir os
programas de preparação realizados por especialistas, documentar os processos e
replicar o programa. “Nesse piloto, as parceiras da área psicológica e
psicanalítica fizeram sem custos, mas, para avançar, e quem sabe virar uma
política pública, é preciso mais apoio e suporte, é preciso compreensão e
reconhecimento da sociedade.” Um aspecto que ela já considera um grande capital
é o fato de que há uma grande sensibilização da sociedade para isso.
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/nossa-infancia/filme-mostra-importancia-das-referencias-afetivas-para-criancas-com-poucas-chances-de-adocao/
(Acesso em 28/06/2016).
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/nossa-infancia/vara-central-da-infancia-de-sp-busca-apoio-para-2a-fase-do-apadrinhamento-afetivo/
(Acesso em 28/06/2016).
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