Entendo a adoção
algo como amar: um pai adotivo, tanto quando um biológico, precisa adotar uma
determinada criança para que haja um vínculo de amor, sem o qual não se
configura um relacionamento pai-filho. Algo similar ocorre com os nossos
núcleos, sejam eles familiares, vizinhança e amigos. Quando uma família adota
uma criança, essa tem que se preocupar também em conquistar os núcleos para que
eles também “adotem” essa criança como semelhante. Mas infelizmente nem sempre
essa tarefa é tão simples.
Temos que comemorar
que sim, o conceito de adoção já mudou bastante e, junto com a legislação, está
muito mais humanizado e próximo à realidade a que se insere. Acontece que essa
mudança normalmente é muito mais facilmente percebida por pessoas de gerações
mais novas, e aí que está o perigo. As pessoas a quem normalmente a gente mais
pensa em recorrer para o caso de uma emergência podem não ver com bons olhos
esse novo membro da família. É aquela velha história: “acho linda a história de
adoção da minha vizinha”, “olha que namoro lindo desses gays no filme?”; mas quando
essas realidades entram pela porta da frente sem nem tocar a campainha, o
problema só começa.
Como fazer pra
evitar ao máximo esse tipo de problema?
Olha, assim como
educação e outros assuntos polêmicos, não há uma verdade absoluta, e sim,
abordagens diversas. Prezamos sempre pela transparência: desde o início de
nosso namoro cada etapa foi curtida e compartilhada com as pessoas que estão à
nossa volta. Mais do que estar a par: buscamos uma sinergia, que eles se vejam
fazendo parte da nossa história e, assim, cresçam conosco. Logicamente não é
tão simples assim; choque de gerações e a religião são tabus que dependem de
muita (mas muita) conversa e tempo pra alinhar as expectativas.
Ainda com toda a
dificuldade e até intolerância em alguns momentos, nos mantemos sempre firmes:
gostando ou não, a verdade é essa. Fizemos assim nesses oito anos de namoro,
estamos fazendo assim nesses 10 meses de gravides psicológica. Trazer o assunto
à tona nos grupos faz as pessoas pensarem a respeito; cutuca-las faz com que
saibamos, ao menos um pouco, do posicionamento de cada um. Tendo em vista tudo
isso podemos pensar a respeito e elaborarmos estratégias pra fazer as pessoas
digerirem melhor a história, enxergar diferentes pontos de vista ou tão
somente: respeitar. Com essa participação corremos um alto risco de cada um
deles embarcarem com a gente nessa causa. E não estou falando de comprar
presentes ou coisa assim. Estou falando de adotar a ideia, de acreditar nessa
paternidade, na evolução dessa família.
Tão importante
quanto superar toda a burocracia e gestar essa criança em saúde, é conquistar o
universo ao qual iremos inserir essa criança. Pra isso é preciso apenas de
verdade. Eu acredito nessa família e sigo firme nessa verdade, doa a quem doer.
E você?
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