EU NÃO ME CHAMO ANTONIO



não é só um nome. 
pra quem tá de fora e olha essa foto: ok, caderno novo. alguém foi lá e desenhou uma tipografia, logo acima de um nome. 

um nome tem história. e quando se fala em adoção, é um assunto difícil.
primeiro porque é moroso. escolhemos conhecer, nos aproximarmos e misturar a nossa história à de dois meninos que se encontravam ainda em destituição - ou seja, ainda eram filhos de pai e mãe biológicos, em processo de tirada dos amplos poderes sobre os dois menores. risco nosso com salvaguarda dos técnicos e juíza do fórum.

deu tudo certo. 
um mergulho no escuro: desde 04 de novembro de 2016 os meninos estão em casa e não sabíamos absolutamente nada sobre esse processo de destituição. segredo de justiça; ansiedade alimentada. um demogorgon que vez ou outra aparecia nos sonhos e que agora ficou pra trás, virou história. 
e está justamente aí o segundo ponto de dificuldade em relação ao nome - ou à troca do nome - que acontece em processos de adoção. não sei ao certo como se processa isso na cabeça deles, mas olha: na dos pais é bem complicado, viu? pensa só: de repente você carrega apenas o seu nome e são alterados todos os seus sobrenomes. mais que isso: saem da certidão de nascimento e demais documentos os nomes dos pais biológicos. 
confesso que é um assunto que me assusta um pouco, mas os meninos levam isso super na boa. temos conversado bastante, desde que os conhecemos. aliás na visão deles é até um pouco diferente - sai o nosso receio em "apagar" toda a história e significâncias do antigo nome pra uma certeza, algo que está consumado, indissolúvel. pois é, meus caros, na visão deles a troca dos nomes é: certeza. 
é: ufa! 
é: consegui uma família.

e é, de fato. o final de um vai e vêm de documentos e validações e trâmites e entrevistas e processos e afins. confesso que vou sentir falta de entrar diariamente no processo pra ver se tem alguma atualização. por outro lado, tem coisa melhor que a certeza e o sucesso de um trabalho bem feito, de equipe mesmo? 
de quatro meninos que trabalharam arduamente pra um fim em comum: que o mundo (e a justiça, e a burocracia do dia a dia) reconheçam pai + pai + filho + filho como, simplesmente, família. 

tão prosaico quanto a macarronada de domingo, o beijo na porta da escola ou o abraço apertado de boa noite.

emfim, família. 

em vida e papel. 

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