fazer compras com crianças, definitivamente, não é fácil.
quando estamos com eles, temos preferido ir a lojas grandes por um motivo bem simples: tem espaço pra correr, pra se esconder. brincar livremente enquanto os dois pais resolvem o que tem pra fazer. e eles levam isso muito a sério: dia desses ficaram meia hora no corre zanzando pela loja toda, escondendo entre as araras, visitando provadores e falando "oi" aos caixas.
numa dessas visitas fomos surpreendidos com uma brincadeira do pequeno que nos chamou a atenção.
não que tenha nos preocupado, acompanhamos bem de perto a adaptação e desde que chegaram, sempre que possível, falamos e repetimos assuntos que poderiam gerar problemas. com uma função bem simples: gerar conflito mesmo. única coisa é que pontuamos bem a hora de dizer, pegamos dias em que eles estão mais comunicativos e tranquilos para fazê-lo, de resto, nada previsto. e olha que não é fácil encarar pergunta de criança, viu?
passados os trinta minutos de diversão na loja de departamentos, estávamos de saída já quando o Davi correu na frente de todos nós e abraçou bem forte um manequim, como ele faz com gente, cachorro, casa (quando volta de viagem).
e não era um manequim qualquer: era de uma mulher, bem claro - com direto a bolsa de mão, chapéu, bota e saia - para tirar qualquer possível dúvida de gênero que aquele manequim naquele contexto representava.
e não era uma data qualquer: poucas semanas após o dia das mães.
pois bem, ele abraçou forte, deu um sorriso sacana, todo engraçadinho e disse:
- mamãe, é você? que esquisito, você não tem cabeça?!?!
ele levou muito na diversão, foi parte da brincadeira, como uma continuação do pique esconde e das gracinhas em meio à correria pela loja. mas além disso essa brincadeira carrega também uma segurança enorme.
aos quatro anos ele já tem seguro, de tanto falarmos a respeito, sobre sua própria história.
contamos a ele um pouco de tudo o que sabemos sobre a história dele.
fazemos o possível para que, ambos, sintam muito orgulho de suas histórias de vida e de tudo o que conquistaram, por mérito próprio.
infelizmente relacionamentos têm altos e baixos, e numa dessas foram parar num abrigo.
não foi por acaso que escolheram os dois, a dedo, para uma adoção. eles estavam preparados, de braços abertos, entregues mesmo à uma história que, teoricamente, ainda nem existia. é mérito deles. fomos veículo dessa evolução. lembro muito dos dois com uma música da Tulipa Ruiz, Aqui:
Cuida bem da
Tua forma de ser
Amanhã o dia vai ser
Diferente de outro dia
Cuida bem da
Tua forma de ser
Amanhã o dia vai ser
Diferente de outro dia
A menina que da terra sempre espera
Que você fique aqui
E no fundo, bem no fundo
Você sabe como
Isso é legal
Ver alguém que entenda
Essa sua transição
Como é legal
Essa sua transição
adoro muito seu blog! vejo muito amor em sua família e a cada texto que eu leio me encoraja a ter em breve uma familia maior!!!
ResponderExcluirSou casado ( homoafetivo) e nosso maior sonho é adotar!
Muito obrigado por compartilhar conosco essa experiencia incrivel!!!