Em cada idade, temos monstros que nos rondam.
Quando pequenos, os monstros mesmo, de verdade. Aqueles que a gente cria na cabeça e nunca nem viu - uma mistura do que vimos nos livros, TV e do que nos contam. Grandes ou pequenos, depende do dia - ou melhor, da nossa coragem em determinado dia.
Passado o tempo, começam algumas responsabilidades. E aí rolam aqueles medos, que quando lembramos - já adultos - parecem sentimentos bobos, mas à época eram imensidão. Do brinquedo X quebrar porque ele deve ter custado o olho da cara. De rabiscar, sem querer, a parede de casa. De quebrar a janela de vidro ao chutar a bola.
A voz muda um pouco, a estatura sobe, uns pelos começam a surgir pelo corpo. Aí a escola entra na dança - ou melhor, a escola dita o ritmo e a música. Por vezes, quando não conseguimos requebrar como se deve, volta o tal do monstro.
Pois bem, é nessa fase que estamos, vivendo, aqui em casa.
O mais velho, no auge de seus 12, veio com enormes dificuldades na escola. Desde o princípio, acolhemos a dificuldade. Não é passar a mão na cabeça, tampouco culpar escola ou professores pelo resultado. A dificuldade vem de muito tempo, é histórica - e buscamos, sempre, compará-lo com o desempenho dele mesmo, anos atrás. Nada de olhar para a carteira ao lado, pro vizinho que faz aulas de inglês desde os quatro anos, que já foi pra Europa cinco vezes e que fala três línguas. É desleal, é desumano, não é certo - com ele e com a gente mesmo - sim, isso não vale apenas para as crianças. Cada um teve um percurso, vivência, e ela deve ser respeitada.
Ele chegou, há dois anos, falando tudo errado e mal sabia escrever.
Caligrafia era um suplício, dificuldade sem fim, que com o tempo foi se associando à facilidade dele em desenhar e foi animando, a cada dia. Literalmente, a cada dia uma letra, um número, uma nova tarefa. Erguendo seu próprio castelo, construindo sua própria história. E não foi fácil: nós, pais, sabemos o quanto ele suou, e soa. A Ju, psicopedagoga e praticamente madrinha que o acompanha desde então, também sabe.
Pois bem, dois anos de muito estudo, muita ajuda e tudo mais, e ainda assim não conseguimos, sempre, fugir das tais recuperações. Vez ou outra, elas voltam - cada vez de uma matéria diferente.
Sinceramente?
Não tenho a menor dúvida da capacidade dele em recuperar - conteúdo e nota.
O que me preocupa mesmo, nessas horas, é com a cabeça dele. Em como ele reage a isso, como ele recebe a notícia e como ele pensa que nós, pais, estamos pensando.
É a hora da estrela.
Hora de mostrar que ele tem pais, ele tem que o abrace e acolhe. Com quem ele pode contar, pra tudo, até quando o monstro vem e mostra os dentes.
E daí, pode dizer ele, eu tenho pais!
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