Passado nosso período inicial de amadurecimento em relação
à ideia de termos um (ou mais) filho(s), a organização e protocolo de toda a
documentação necessária, recebemos no início no mês passado uma ligação de uma
assistente social nos convidando a participar do curso preparatório para
adoção. Como meu marido estava fora da cidade em viagem de trabalho, pedi que
nos procurassem quando houvesse o agendamento numa próxima oportunidade. Uns 15
dias depois recebi uma nova ligação com a convocação na próxima data: 23/10/2015.
Chegamos no horário marcado ao Auditório do TJSP, na Rua
Conde de Sarzedas, e o que sabíamos até aí era que o curso era obrigatório e
teríamos contato com alguns assuntos envolvendo aspectos psicológicos, sociais
e jurídicos sobre o processo de habilitação e da adoção propriamente. Para
nossa surpresa inicial, bastante gente na sala. Cerca de 30-40 pessoas estavam
lá, e tinha de tudo: senhora viúva, casais de meia idade e casais homossexuais.
Em comum: a ansiedade escancarada em cada sorriso.
O curso, pelo que pudemos perceber, não tem um conteúdo muito
rígido. Na Vara em que corre o nosso processo houve uma mudança recente de
direção: a juíza que comandava foi promovida para a Segunda Instância e,
interinamente, temos outra juíza analisando o caso. Todavia, a juíza anterior fez
questão de comparecer para falar conosco, como uma “despedida” dos processos de
Primeira Instância.
Começamos com a exibição de dois vídeos amadores –
produzidos pela então juíza Dra. Dora Martins – que demonstravam um pouco da
realidade das crianças e dos abrigos em que vivem. O primeiro era uma gravação
no gabinete em que grupos de irmão, já com certa idade (8 a 12 anos), falavam
um pouco da ansiedade e da dificuldade para os casos de adoção tardia.
Extremamente comovente, o simples retrato mostrou muito do desejo das crianças
por carinho e amor. Era só o começo da choradeira! Logo depois, um outro vídeo
nos foi apresentado. De mesma autoria, esse foi gravado num abrigo demonstrando
um pouco do dia-a-dia das casas onde vivem as crianças assistidas pela Vara
Central: aproximadamente 20 crianças vivendo num ambiente que tenta copiar ao
máximo o ambiente de uma casa tradicional. Isso para as crianças vivenciarem já
o ambiente que provavelmente encontrarão após a adoção pelos pretendentes.
Assim como o primeiro, o vídeo era cheio de entrevistas e momentos incríveis
com as crianças que aguardam as pendências jurídicas para estarem aptas e as
que aguardam pretendentes que se encaixem aos seus perfis.
Terminados os vídeos o grupo de Psicologia e Assistência
Social fez a apresentação de toda a equipe e demonstrou muito da impressão que
a gestão da Dra. Dora à frente da Vara Central: muita humanidade e carinho no tratamento
às crianças e na atenção aos processos e pretendentes. É engraçado pensar que
temos hoje no Brasil aproximadamente 30.000 casais interessados em adoção e
cerca de 5.000 crianças aptas à adoção (sem contarmos as que estão em processo
jurídico e logo estarão aptas). Isso decorre do fato que muitas vezes os
pretendentes têm diversas exigências que acabam por aumentar bastante o prazo
para apresentação de uma criança que se encaixe ao perfil. Temos uma grande
quantidade de crianças com idade avançada e poucas meninas recém-nascidas,
brancas de olhos claros. Esse é o perfil mais requisitado na fila!
Feitas as apresentações, a Dra. Dora chegou ao evento. Bem
animada e espirituosa, se apresentou e calmamente ouviu a todos que estavam na
sala se apresentarem brevemente. Diversos casais disseram que gostariam de
“ajudar” uma criança carente realizando o processo de adoção. É certo que desse
modo acabamos por – provavelmente – ajudar às crianças a terem oportunidades de
um futuro melhor. Todavia essa não deve ser a motivação principal: a
motivação é ter um filho. A boa ação, na verdade, ocorrem para ambas as partes.
Uma promessa de futuro melhor para a criança; uma possibilidade de melhorarmos
como seres humanos para os pretendentes. Entre as partes: o setor técnico e o
juizado fazendo as devidas análises e apresentações.
Outro fato importante levantado no bate papo foi em relação
a como os casais devem se comportar nesse processo de preparação. É como uma
gravidez, mas nesse caso homens e mulheres sofrem e gozam à mesma maneira. Como
em qualquer preparação devemos ler, assistir e falar a respeito o tempo todo.
Temos que nos preparar, nos questionar, mudar de ideia, argumentar com o
intuito de amadurecermos como homens e mulheres que queremos um dia virarmos
pais. Diferente da gravidez biológica, a adoção não dá tantos indícios assim
que está para acontecer. Passada a realização do curso, a realização das
entrevistas com os psicólogos e com as assistentes sociais, o juiz analisa o
processo e se posiciona em relação à Habilitação. Uma vez Habilitado, a
qualquer momento podemos receber a ligação de que eles têm uma criança
para nos apresentar. Precisamos estar preparados pra isso!
Esse bate papo todo nos deixou muito pensativo. É engraçado
como foram falados inúmeros pontos críticos do processo e da decisão, mas ao
mesmo tempo toda essa discussão nos deixou mais calmos. É bom saber que tem uma
equipe extremamente empenhada e preparada para nos dar todo o suporte
necessário. É natural termos mil e uma dúvidas em mente e até um pouco de medo;
terminamos o dia sentindo nossa barriga crescer, como se nossa gestação tivesse
evoluído. E assim seguiram também os dias seguintes: o curso serviu mesmo é pra
chacoalhar a gente. A cada hora um levantava algo que foi dito no curso e pronto:
horas e horas de conversa com o marido. Tem sido incrível!
Abaixo alguns links com material interessante sobre o
assunto:
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