A decisão
em seguir com a adoção pode ter diversas motivações; são anos pensando e
refletindo a respeito até que os casais tomem essa decisão. Além de toda a
burocracia envolvida, diferente da gravidez biológica, a adoção acaba
solicitando dos casais uma preparação muito maior: burocrática, financeira,
psicológica, etc. Toda a situação familiar é analisada e tudo isso deve ser
previamente ajustado e conversado entre o casal. A mudança é grande, precisamos
estar seguros que aguentamos tudo o que puder vir.
Há
também um lado curioso: a partir do momento que tomamos essa decisão a nossa
cabeça muda, e muito! Se você já está nesse estágio, parabéns: você está grávidx!!! Diferente da
biológica, sem dúvida, mas o mesmo amor e ansiedade. A chamada “gravidez
adotiva” caracteriza mudanças fortemente relacionadas a aspectos psicológicos e
emocionais. Pode, inclusive, ser mais difícil de lidar que no caso biológico já
que não temos a definição de tempo cravada no “padrão” dos nove meses. Os
sintomas da família pretendente à adoção podem começar até mesmo antes da
criança nascer de fato! Pra segurar um pouco toda a ansiedade comum desse
processo, nada melhor que um pré-natal muito bem feito e curtido pelos
pretendentes. Livros, Filmes, Grupos de Apoio e Terapias são muito bem vindos
para clarear as ideias e ajudar o casal nessa preparação, tão importante para
garantir o bom andamento de todo o processo.
Dias
depois de nossa primeira entrevista com a assistente social que está cuidando
de nosso processo, algumas perguntas ainda estão na nossa mente. "Por que
uma criança?" – buscamos respostas carregadas de emoção tentando traduzir
um desejo impossível de ser descrito principalmente durante o nervosismo
natural de uma entrevista como essa. Recebemos da assistente social um duro e
direto conselho: "não sejam tão idealistas, a realidade é mais simples e
menos previsível. Mesmo através da educação vocês não irão transformar o filho
de vocês. Adotivo ou biológico o diamante vem bruto da natureza e mesmo lapidado
ainda terá o carvão na essência dele".
A
impressão que ficou era que a assistente social esperava que já estivéssemos
prontos como pais logo na primeira entrevista. "Caso o filho de vocês
precise por causa de alguma doença inesperada de cuidados especiais por um
período de 3 meses, como vocês vão se virar? A quem vão recorrer?". Não
acho que algum casal biológico teria a resposta para essa pergunta, por
exemplo, quando tomou a decisão de engravidar. Todavia, é justamente essa a
diferença entre os dois tipos de gravidez: a adoção trata de uma realidade que já existe, de uma história.
A aproximação é feita de maneira muito cautelosa para evitar quaisquer
possibilidades de traumas para ambas as partes. Uma aproximação com um pretendente despreparado pode ser um trauma irreversível
para uma criança que já carrega consigo um histórico, normalmente já bem complicado.
Outro
momento difícil foi preencher a ficha de característica do futuro filho.
Precisávamos de ajuda para compreender todas aquelas perguntas, e a assistente
social estava lá para nos ajudar. Mas eram itens complexos e mesmo como o
auxilio achamos prematuro uma decisão ali na hora, em 5 min. “Aceita uma
criança com doença tratável? Doença grave ou HIV? Como era possível excluir um
criança só porque tem bronquite, uma doença tratável? Mas o que difere essa
criança com bronquite da criança que tem HIV”. Se o diamante já vem pronto da
natureza, também não é possível ficar escolhendo qual pedra vamos achar na
escuridão do garimpo. Preferimos deixar esses itens em branco; passado esse
período de preparação e conversas nos grupos de apoio, voltamos mais preparados
para preenchermos o que falta e darmos continuidade ao processo. O segredo
agora é a paciência; temos que reconhecer o tempo necessário que precisamos
para nos preparar. Nós mesmos saberemos que estamos prontos, no momento certo!
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