1. Há um tempo uma amiga contava como foi a chegada
do filho n°02. O filho n°01, enciumado, simplesmente cortou relações com ela.
Sem tempo pra dormir ou comer, foi ficando cada vez mais estressada. Uma amiga
perguntou como ela tinha conseguido resolver o problema. Ela respondeu que
"não dava pra mandar de volta" então teve que se virar.
2. Uma amiga acabou de ter bebê. Segundo a irmã,
ela está com depressão pós-parto. Eu conversei pessoalmente com ela e creio que
a depressão tem outro fundo que não o pós-parto: a certeza dela de que é uma
péssima mãe porque "não dá conta de tudo".
3. Em uma reunião do grupo de adoção uma assistente
social contava, em tom de chacota, que um casal, há anos na fila, havia
devolvido um bebê sob a justificativa de que ele chorava muito.
4. Uma adotante uma vez disse que gostaria de ter
sabido antes o que a esperava, não que não fosse adotar... Mas teria se
preparado de forma diferente.
Porque estou contando estes casos? Porque hoje
acredito que eles estão interligados. A moça do 3° caso pode ter devolvido o
bebê não porque ele chorava muito (como se fosse um defeito de fabricação), mas
porque não se sentia capaz de fazer daquele bebê um ser feliz. Acontece que ao
invés da moça do 1° tópico ela podia devolver pra fonte... E o fez.
As reuniões dos grupos de adoção a que eu
presenciei (e não foram poucas) lidavam com o stress da espera, com a
conscientização de que não existem bebês meninas disponíveis e que a adoção
tardia deve ser encarada como uma possibilidade concreta.
Podemos e devemos, claro, sonhar com o dia em que o
telefone toca... Mas também devemos nos preparar para as mudanças necessárias
que serão feitas em nossa rotina:
- nossa casa está preparada para receber as
crianças? Algumas pessoas estão abertas a adoção de grupos de irmãos. Pense se
em sua casa cabem mais três camas, por ex. E o carro? Tem que trocar? E a
escola, tenho uma ideia?
- nosso orçamento está preparado para destinar
dinheiro pra outros lugares? Eu sempre ouço pessoas falando que não podem
viajar pra buscar uma criança muito longe de sua residência. Se seu orçamento
está inteiro comprometido com a prestação do carro, viagem, reforma da casa,
melhor fazer uma planilha. Uma criança tem outros gastos que não apenas a alimentação:
tem também o plano médico, escola, materiais...
-sua rotina diária como será? Que mudanças deverão
ser feitas? Você gosta de ir pra balada? Viajar? Comer lanche todo dia?
- como se comportam crianças de tal faixa etária?
Como devo lidar com isso? Vou precisar de apoio especializado (psicóloga,
fonoaudióloga, etc..).
Pode parecer besteira, mas uma vez aprendi que
planejamento mental é tudo. A gente tem tempo de se preparar e não é pego de
surpresa.
Fonte: http://adocaotardia.blogspot.com.br/2014/07/nao-da-pra-devolver.html
(Acesso em 24/06/2016).
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