Chove forte lá fora.
Os raios iluminam e cortam o céu enquanto o som estremece os ouvidos.
Aqui ao lado vejo uma cena, no mínimo, inusitada: meu filho mais novo abraçado ao cachorro, como se o confortasse em relação à chuva e ao barulho lá fora. Como se dissesse "está tudo bem, eu também tinha medo, mas cresci".
Ele tem cinco anos. O cachorro, aproximadamente sete.
Férias de Verão são sempre um desafio. "De Verão" não, férias. Sabe aquela história de que quando pais saem de férias com as crianças, ao voltar, eles precisam de férias? Pois bem, é real!
Além dos quilômetros rodados, das inúmeras paisagens, banhos de chuva, piscina e suor, essas férias reservaram pra gente uma grande surpresa. Grande mesmo, no sentido literal da palavra.
Havia um tempo que aventávamos a ideia de ter um cachorro, mas sempre vinha aquele pensamento de “ah, mas já sou casado, tenho dois filhos, trabalho casa... muita coisa pra cuidar, mais um cachorro?!?”. Sim, agora, além de tudo, um cachorro. E mais: grande, bem maior que na imaginação.
Guetta.
Porquê Guetta? Ele foi resgatado pela ONG Amigos de São Francisco no estacionamento de um show do David Guetta e, desde então (cerca de quatro anos), vivia na fazenda mantida por eles até encontrar a nossa família. Nossa família sim: quando fomos encontra-lo pela primeira vez, no estacionamento de um Pet Shop grande perto de casa, fomos os quatro a pé, subindo a Augusta esbaforidos – parecíamos quatro adolescentes correndo do date arranjado pelo Tinder, daqueles que duram semanas de “vamos marcar” e finalmente se desenrola.
No caminho, pra minha surpresa, o pequeno solta uma que me desconcertou: “já sei papai, quando a gente encontrar ele vamos falar pra ele que a gente reformou a nossa casa pra parecer a fazenda onde ele morava, pra ele se sentir mais à vontade”. E a ansiedade só aumentava. Ainda no caminho o caçula perguntou, de novo:
- Mas papai, porque ele estava numa fazenda?
- Porque ele precisa encontrar uma família pra abraçar ele.
- É a nossa! – disse o pequeno, com a naturalidade que só uma criança conseguiria responder.
À primeira vista foi, de fato, como à primeira vista de um date de aplicativo: bem diferente do que imaginamos com aquela foto que havíamos visto no Instagram dele com chapeuzinho de Natal. Lá ele parecia pequenininho, acanhado. Ele é grande, robusto e muito carinhoso. Sorte a nossa – chegou pra abraçar, a família e a casa.
Distribuímos tarefas e ensinamos: vamos adotar juntos, somos todos responsáveis. Um ajuda no passeio, outro a escovar os pelos, outro ainda a tirar o excesso de pelos que insistem em invadir o piso da casa. Nos primeiros dias rolou um pouco de ciúmes do pequeno, mas rapidinho contornamos. De tempos em tempos teima em reaparecer, mas num abraço mais longo se resolve.
Como temos dois filhos e tinha certo receio por conta do tamanho, adaptação e tudo mais, combinamos com a ONG que ficaria uma semana para sentirmos como rolaria, então iríamos conversar sobre a adoção, se iria rolar e tal. Esse combinado com a ONG e com os filhos. Pois bem, no segundo dia fiquei em casa preparando jantar enquanto os três, marido e filhos, foram levar o Guetta pra passear. Assim que chegaram em casa o pequeno disse que queria conversar logo, que queria o Guetta em casa não só por uma semana, mas por “muuuuito” tempo.
Sempre é tempo de vida nova.
Sempre é tempo de casa nova.
Por aqui, adotamos um cachorro. Novas vivências no cenário de sempre, até agora. Mas confesso que há um tempo já andava aventando novas ideias, pensando agora como cliente “vamos vender o apartamento, procurar um lugar maior, com mais conforto pra todos”.
A casa acolhe e recebe o novo: a vinda do Guetta trouxe pra gente uma harmonia que é indescritível. A agenda ficou mais concorrida: agora tem passeios pelo bairro, visitas ao pet shop. Mas também algo mais mudou: passamos a aproveitar muito mais a varanda, ficamos agora lá por horas, com ele deitado em nossos pés, lendo, conversando ou só tomando um sol mesmo. Ele veio pra nos lembrar como a nossa casa é super legal, e a nossa cara! E posso falar? Ele está bem confortável, nem quer saber de mais espaço não, prefere o aperto embaixo da minha escrivaninha enquanto trabalho, onde tem o carinho dos meus pés e o escurinho. Ou mesmo o tapetinho do lado da nossa cama, onde podemos ouvir seus pesadelos e as patinhas pra lá e pra cá.
E você, como reinventa a sua casa?
Aqui abraçamos dois filhos, muitas plantas e agora um cachorro! 😊
chorei
ResponderExcluirque post maravilhoso