Antes mesmo de me descobrir gay, lembro-me de eu falar
com a minha mãe que só eu e meu irmão não bastava que ela tinha que adotar uma
menina. A gente já era grande (tinha 7 anos!) e logo não teria quem cuidasse
dela. Isso sempre me preocupou já que minha mãe já tinha certa idade quando
nasci.
O fato é que os anos se passaram, entrei na faculdade,
raspei a cabeça, mudei de cidade e no primeiro dia de vida nova eu conheci o homem
que seria a minha descoberta dessa vida nova. Foi amor à primeira vista! Só pra
mim, uma pena... Lembro que ainda no trote olhei pra ele e já lancei assim, na
cara: “quer morar comigo?”. Eu com 18, ele com 17. Os dois horríveis de cabeça
raspada todos sujos de guache e com sorriso de orelha a orelha. Ele deve ter me
achado bem estranho (eu também acharia), e disse que ia pensar. Pra dizer bem a
verdade, acho que ele falou isso por educação. Nesse momento jurava que ele não
daria a mínima pra mim. Dia seguinte: mais trote, pedágio, tinta guache e
esfirras frias do Habib’s. Clima perfeito pra um começo de namoro; é, acho que
não. Ele mal olhou na minha cara. “Acho que não faço o tipo dele”, pensei. No
terceiro dia de cidade nova os meninos da sala (uns oito, no máximo) saíram pra
dar uma rodada nas imobiliárias pra vermos o que encontrávamos. Acho que foi
nosso primeiro contato sem tinta guache; de cara limpa, enfim, nos conhecemos.
Ele conseguiu analisar quão mais estranhos eram os outros meninos, enfiou o
rabo no meio das pernas e veio me procurar dizendo que estava sim interessado
em procurar um lugar pra morar comigo.
Quis fazer cara de “que legal, mas nem estou tão
animado assim”, mas sou de câncer, não consegui. Abri o maior sorriso do mundo,
minhas pernas tremeram. 42 graus naquele sol escaldante e eu suando frio. Foi
assim combinamos tudo e fomos pra uma república com outros cinco meninos.
Eles amavam a gente!
Imagina só? Cinco estudantes de diversos cursos, todo mundo calouro, louco pra
curtir toda a novidade. Eu e meu novo amigo, de Arquitetura, estudávamos numa
sala com uma proporção estranha: um homem pra cada 8 mulheres. Elas não saíam
de casa, eles amavam a gente! Mas a gente era muito certinho; um ano de
bagunça, de banda em casa, de festa toda semana e cansamos. A melhor desculpa
do mundo pra morarmos enfim, sós. Nem quarto a gente dividia ainda! Eu
precisava apressar isso. No segundo ano estávamos os dois dividindo quarto,
cada um num canto oposto. E que raio de apartamento que era aquele; porque no
interior os quartos são tão grandes? Credo. Cada um tinha intimidade demais.
Demorou mais um ano e meio pra eu conseguir fazer ele me olhar diferente.
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