Adotar. Você é louco?

Acabo de ler um artigo muito bom sobre mudanças, sobre sair da zona de conforto. É engraçado como esse assunto cabe direitinho quando analisamos através de vários pontos de vista, inclusive sobre paternidade e adoção. Não foram raras as vezes que me questionaram sobre minha decisão em seguir com a adoção, sobre os problemas que eu estaria arranjando pra minha vida, sobre eu ser muito novo pra isso, etc.
Recentemente participei de um projeto que busca histórias justamente como essa. O projeto chama Pupa, assiste aí pra entender melhor qual a proposta. Basicamente a ideia é mostrar histórias de pessoas que mudaram de vida, que arregaçaram as mangas e mudaram a direção da vida, saíram da zona de conforto. Abaixo segue o vídeo e o artigo, retirado do site do Estadão:




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Conforto. Conforto é uma palavra deliciosa. Conforto nos remete diretamente à ideia de um edredom branco, bem fofinho e cheiroso no qual nos afundamos nos finais de semana. Mas experimente colocar um “zona de” na frente do conforto para vê-lo estragar automaticamente.
Eu me lembro bem. Faltava meia hora para minha banca de mestrado, eu estava tão apavorada… Com enjoo e tudo mais, surtando. Lembro de me perguntar por que é que eu me metia nessas coisas, ao invés de ficar “de boa”. Segundos depois me deparei com a seguinte frase solta pelas redes sociais “a vida começa no fim da sua zona de conforto”. Parei. Li outra vez. Aquilo fazia algum sentido. Transformei o pânico em frio na barriga. Entre na sala, defendi minha dissertação e deu tudo certo.
É engraçado pensar quantas vezes nós usamos desculpas esfarrapadas para esconder nossa falta de coragem. Não vou me candidatar a esse curso porque não tenho tempo (e não por medo de não ser aprovado), não vou fazer essa viagem porque não quero gastar dinheiro (e não por medo de avisar no trabalho que vai ficar uma semaninha fora), não vou ligar para ele porque ele não é tudo isso (e não por medo de ouvir um não).
A vida é povoada de nãos, de medos, de riscos. E sair da zona de conforto é trabalhoso. Custa coragem, custa tentativa, custa alguns erros, alguns empregos, alguns relacionamentos, algumas certezas. Mas a zona de conforto, frequente e ironicamente, é bastante desagradável. É o trabalho das 8 às 18. O trânsito na ida e na volta. É a mesma comida, a mesma coisa na televisão. O mesmo domingo, as mesmas queixas. A zona de conforto está lá, nos cozinhando em banho maria, matando os nossos dias devagarzinho, acinzentando nossos hábitos.
Não tem jeito: se a gente não fizer mais do que costuma e sabe fazer, a vida vai ficar sempre igual. Se a gente não se meter em umas encrencas, não se colocar em certos desafios, não jogar meia dúzia de coisas pro alto, a vida nunca vai ficar mais vida do que ela é.
Adoro o Kung Fu Panda porque ele é exatamente isso. Ele se sente extremamente inapto para os desafios que a vida lhe impôs- não sabe lutar, não sabe treinar, não se sente à vontade naquele ambiente, preferia ficar comendo, sentado num cantinho- mas sabe que precisa encarar. E sabe que, de um jeito ou de outro, tudo vai dar certo.
Eu me sinto como o Kung Fu Panda em muitas esferas da vida. Um certo sentimento de inadaptação. De não saber se sou capaz. É assim toda quarta-feira com o blog, dá medo. Foi assim quando tive que escrever o livro. Quando entrei no mestrado. Quando advogo em causas grandes. Quando mudei de país. Quando entrei no doutorado. Mas a gente tem que acreditar. Tem que pegar os desafios pelo chifre, rir da zona de conforto e seguir em frente.
E não há sensação melhor do que conseguir. Às vezes com maestria, às vezes com uma certa mediocridade, mas conseguir. E mesmo nas vezes em que a gente não consegue… Tentar também faz muito sentido. Faz sentido sair do raso, do previsível, do seguro (que morre de velho ou morre de chato).
Faz sentido abrir a janela, abrir a porta, colocar a cara no sol. Porque a vida tá lá fora. E ficar sempre aqui dentro é uma escolha. Uma escolha triste, mas possível e até bastante confortável. Esse é o perigo.
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