sobre dar nome às coisas (e sentimentos)


tivemos um estágio de convivência bem tranquilo comparado à tudo aquilo que lemos e que nos assustaram antes da hora. confesso também que tivemos uma sorte de grande de termos ao nosso lado uma equipe técnica no Fórum super bem preparada e próxima da gente. no começo é aquele bate papo longo todo santo dia; aí começa a intercalar (nessa hora eu comecei a anotar TUDO o que acontecia por medo de esquecer de comentar algo com a psicóloga); logo virou um vez por semana; uma no mês. e lá se foram quatro meses!
tínhamos esse contato diário por telefone, mas também algumas visitas presenciais: com e sem os meninos. com eles era basicamente pra psicóloga cutucar à vontade e depois curtirmos um bando de reações desencadeadas nos meninos depois de tanta pressão. e foi ótimo: apareceu ciúme, medos, orgulhos. de tudo um pouco do que todo mundo sente mas também tenta esconder: aí é que foi legal. aprendemos com as técnicas do Fórum um dos conceitos mais importantes que cultivamos desde o início em casa: tão importante quanto olhar nos olhos, abraçar e passar toda a segurança pros filhotes, é preciso SIM dar nome aos sentimentos.
principalmente no nosso caso, em que adotamos dois meninos: não sabemos ao certo como foi a criação deles junto à família biológica, muito menos enquanto viviam abrigados. infelizmente a educação dos meninos muitas vezes é machista ao ponto de massacrar toda e qualquer possibilidade de sentimentos fragilizados: ciúmes, medos, até amor. por conta disso é bem comum nem saberem ao certo o que significam essas palavras. devemos ficar muito atentos aos sinais que eles nos dão, dia a dia.
nas últimas semanas as aulas voltaram, primeiro as do mais velho. duas semanas depois o caçula começou com comportamentos estranhos ao dele e demoramos uns dias até nos tocarmos: ele estava morrendo de inveja. poxa, compramos um monte de material escolar super colorido, perdemos horas embalando e cuidando de tudo, ele estava voltando pra casa cheio de novidades, e o pequeno em casa, o dia todo na asa do pai. pois assim que percebemos, chamamos ele pra conversar e contar um pouco do que ele estava sentindo. acalmá-lo dizendo ser normal esse sentimento, mas também mostrando um monte de outras coisas que aconteceram na vida dele nessas duas semanas que não justificavam o sentimento dele. a gente acha que eles não entendem, né? no dia seguinte, vida que segue.
eles entendem TUDO; a nós cabe o discernimento de chamarmos pra detalhar os conceitos, sentimentos e experiências. é muito importante pra eles não se sentirem frágeis ou impotentes, coisas da vida. mas posso falar? a gente só aprende mesmo, é na marra. a quem pensa em adotar meu conselho é: leia muito. um dia tudo isso vai fazer sentido, como pra gente faz, a cada manhã, a cada sorriso dos dois filhos pros dois pais.

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