ao trabalho!

nunca entendi a paternidade como biológica: pra mim sempre foi fruto de um processo burocrático e um amadurecimento intelectual e espiritual. independente de minha orientação sexual: sempre tive muito claro meu desejo pela adoção. também nunca acreditei nessa de ser pai ou ser mãe; disso dignificar alguma diferença entre responsabilidades ou afeto. sou pai pelo simples fato de me reconhecer como homem, independente do meu sexo. mas isso em nada difere quanto a dores e delícias de ter um filho. faço questão de bagunçar (e muito) a cabeça dos meus filhos quanto a isso: não sairão daqui achando que pai é provedor e mãe a que faz tudo. não! pai e mãe são provedores, fazem de tudo e são, sim, super heróis. 

só a gente sabe como dá conta de fazer tanta coisa em tão pouco tempo: todo santo dia. 
não tem salário, férias, décimo terceiro, aposentadoria, nem PLR. 
mas posso falar? 
NÃO TEM PREÇO!

por isso mesmo que entendo que ter filhos não impacta apenas numa mudança de rotina para dar conta das necessidades deles, mas uma mudança de estilo de vida. foram anos que nos preparamos pra isso; quando conhecemos eles já mentalizei a programação da licença com período de caos - organização de rotina dos meninos - organização da minha rotina. já passamos pelas duas primeiras (e árduas) etapas, estamos agora na minha vez. a hora da estrela. "o silêncio é tal que nem o pensamento pensa", escreveu Clarice. um pouco assim que me senti quando entrei nessa fase. 
temos um mundo de possibilidades; muita coisa pra resolver que impacta diretamente na vida dos quatro. temos que ser muito cuidadosos em casa decisão que tomamos. 
é uma questão de bom senso, de fazer sentido com a história toda: vamos lá! éramos um casal estável e feliz que, graças a muito trabalho e a oportunidades da vida, tínhamos um padrão legal de vida. resolvemos encarar a paternidade, mas não do viés "provedor". aqui pai dá conta de tudo. e desde o dia quatro de outubro de dois mil e seis que tudo o que faço é pensando neles amanhã. pra pensar no amanhã, não posso esquecer do hoje. reflexo direto. portanto, precisei quebrar a cabeça e pensar numa forma de atender a toda essa história bonita.

não faz sentido algum pra mim, terminada a licença, me enfiar num escritório da zona sul (que me faria perder entre duas e três horas por dia no trânsito) e deixá-los transados em escolas (caríssimas) das sete às sete. muita gente entende essa solução como plausível; eu não. não aceito (e pra mim não vale a pena) estar longe dos meus filhos o dia todo pra vê-los umas duas horas por dia e no final de semana estar exausto por conta dessa rotina maluca, nem ter energias pra gastar com o que vale a pena: os dois. NÃO!

>>> meta 01: trabalhar perto de casa;
>>> meta 02: flexibilidade de horários para que eu possa participar da rotina deles;

eu sei que é bem difícil bater essas metas que criei em plena crise econômica, em que os empregos são escassos e a possibilidade de se escolher trabalho é praticamente remota. pois bem, praticamente. o universo conspira, não tem outra explicação.

desde o começo dessa nova etapa ando mexendo meus pauzinhos no sentido de conseguir conciliar da melhor forma possível a minha vida pessoal com esse novo contexto familiar. algumas conversas no meu trabalho atual, centenas de currículos espalhados como balas perdidas até que uma caiu no lugar certo. não diria sorte, mas destino. nem tinha vaga anunciada, mandei só por simpatia à empresa (pensando um "vai que..."). a entrevista foi a mais comprida (e tranquila) que eu já tive. reconheço que a tranquilidade vem sim da maturidade: foram tantas provas durante esse processo todo de adoção que estamos craques em conversas. pois muito antes do que pensava já estou com a minha nova vida desenhadinha: volto a ser arquiteto num escritório que fica a meio quilômetro (ou dez minutos a pé) da minha casa com flexibilidade pra trabalhar de casa sempre que precisar. 

>>> meta 01: trabalhar perto de casa: CHECK!
>>> meta 02: flexibilidade de horários para que eu possa participar da rotina deles: CHECK!

UFA!
é um alívio inenarrável tirar esse fardo das costas: foram dias e dias matutando propostas, chorando com a possibilidade de ter que deixá-los integral na escola, rezando pra aparecer algo mais legal. enfim! vida nova pra mim; pra eles, ainda bem, nada muda. 

se tem uma coisa que aprendi depois que virei pai foi a ter paciência. tudo, tudo mesmo, um dia se ajeita. 
é só a gente fazer a nossa parte e confiar. ao trabalho!




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