descobrindo a compaixão (ou se revoltando com a política)


Ontem vivi um drama. 
Daqueles que quando acontece a primeira vez a gente fica meio sem reação, pedindo colo. 

Fui buscar o pequeno na creche e logo que cheguei a professora me alertou: umas três da tarde ele se queixou de dor de cabeça, não te ligamos pois já era quase hora da saída. Olhei pra ele e num lance senti o drama: estava sentado, quietinho, ouvindo a história que a professora estava contando até eu entrar lá. Enquanto isso as outras crianças corriam desbravando o espaço e o tempo livre. 

Logo que me viu já levantou os braços pedindo colo; manhoso. Foi assim, de lá até em casa. Eu com quase vinte quilos no colo. Um quilômetro e meio triste em ver meu menino, que sempre corre, brinca, grita, pula e me beija, quietinho. Nem um pio. 

Passou dois quarteirões, não me contive. 
Nunca pensei que pudesse ser tão difícil ver o filhote mal. Sabia que não havia de ser nada de mais: um banho, um leite quente e cama resolveriam. Mas mesmo assim: e a dor no coração em vê-lo tão pra baixo? 

Eu sabia exatamente o que fazer, mas ainda assim pedia, quietinho, um abraço da minha mãe. Não precisava, mas queria ajuda. 

Chegamos em casa, segui o roteiro: banho bem quentinho, um lanchinho bem reforçado e cama. Mas uma coisa me chamou a atenção: comeu rápido, feito um soldado que volta da guerra, que não vê comida há tempos. Na hora já entendi: deve ter feito firula no almoço e o lanchinho da tarde é bem do fraco - a dor de cabeça devia ser fome. Fome! 
Mas infelizmente a escola não tem culpa, tão pouco a professora. Pra prefeitura a criança deve comer bem no almoço e à tarde, só meio copo de leite. Isso, segundo eles, resolve a obesidade infantil. A custa de dor de cabeça, mal humor e muita preocupação dos pais. Agora: como falar o uma criança de três anos que ela tem que prestar atenção e comer bem no almoço porque senão depois não tem comida? Pois é. 

Enfim, seis da tarde e ele já estava dormindo, respirando fundo. Mas até pegar no sono, ouvi algumas vezes que estava com a cabeça doendo. 

"E minha cabeça é grande, né papai?".

Enorme, filho. 
Mas meu amor por você é bem maior, pode apostar. 

Logo mais tem um movimento contra essa política, digamos, esquisita da prefeitura. Vem somar: 

https://www.facebook.com/events/1932891483703031/?ti=as

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